21/06/2007

Industria músical em Portugal, que futuro?

-Mais uma etiqueta, desta vez a EMI, que encerra portas em Portugal, continuando a vender por cá obviamente, mas operando a partir de Espanha. Em muitas actividades económicas passa-se o mesmo, nos últimos anos são inúmeras as multinacionais que deixaram de ter centro de decisão em Portugal, e passaram a operar no nosso mercado, tratando-nos como uma região de Espanha, e nem sequer das mais importantes, não vou analisar hoje este fenómeno em todas as suas vertentes, mas reduzir-me à música, que considero altamente preocupante. O facto é que se vendem cada vez menos discos, não é uma realidade exclusivamente portuguesa, é antes do mais um fenómeno, e um problema à escala global, ao qual a indústria ainda não se conseguiu adaptar, e contrariar, tem a ver com os downloads, legais ou não, tirados da Net, a qualidade de som, e o preço dos CD-R, e o PVP final do tradicional CD. Em relação ás editoras, e aos artistas, penso que terão de apostar noutros complementos, como por ex. incluir entrevistas nos álbuns, mesmo um ou dois clips, momentos ao vivo ou acústicos, por forma a que o comprador tenha algo mais na compra do album do que obterá se fizer o download, mas o preço continuará um obstáculo, e aqui o estado português não pode ignorar o problema, apontar o dedo à globalização e assobiar para o lado, pois cobrar 21% de IVA num disco, quando num livro se cobram 5%, fará algum sentido? A não ser que música não seja cultura! Dir-me-ão que nem toda, concordo, não gosto de música normalmente apelidada de pimba, mas quem sou eu para dizer que os meus gostos são qualitativa e culturalmente superiores aos de quem quer que seja? Mas não se passa o mesmo na literatura? Existem escritores, de quem pura e simplesmente não gosto, não tenciono comprar o que quer que seja, editado ou por editar, é um direito que me assiste enquanto consumidor, outros escritores existem que tenho as obras completas, e sempre que sai um livro compro mesmo ás cegas. Mas por favor, e com respeito, alguém será capaz de me explicar esta simples equação, o último livro do António Lobo Antunes é tibutado a 5%, o mesmo que o livro da sra Carolina Salgado, porque no estado ( e bem ), ninguém separa os livros tipo, este é cultura, aquele não é, porque isso seria uma espécie de censura de aconselhamento, nos discos todos pagam 21%, a questão é, alguém é capaz de me explicar se o livro "eu Carolina", é culturalmente mais rico, do que um disco por ex. da Maria João? ou do Pedro Burmeister? Para não falar ostensivamente em artistas que vendem bem, embora hoje em dia, ninguém vende bem, e a prova é que a própria indústria atribui hoje o galardão disco de ouro, com muitos menos exemplares vendidos que há um par de anos! O problema da deslocalização destas editoras, é que todos anos elas lançavam alguns discos portugueses, mesmo que vendessem pouco, certamente que a partir de Madrid, deixarão de o fazer, e depois querem que as rádios passem mais música portuguesa? Mas qual música portuguesa? por este caminho daqui a uns anos só se forem uns clássicos, ou então meia dúzia de artistas top, que sempre existiram, mas que per si, não chegam para fazer uma indústria. Não existem soluções milagrosas, mas há que começar por algum lado, e poderia e dever-se-ia começar por baixar o IVA nos discos para 5%. Já era um princípio!

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