02/01/2008

Preocupações presidenciais

-O Presidente da República, durante a tradicional mensagem de Ano Novo, questionou a legitimidade dos rendimentos de altos quadros de algumas empresas, centrando a questão numa eventual desproporcionalidade face aos rendimentos médios dessas mesmas empresas. Para Cavaco Silva, não deve ser colocado em causa o princípio de premiar o mérito, nem tão pouco a necessidade de atrair qualificação. Não tenho dúvidas que esta preocupação do P.R. é partilhada por muitos portugueses, basta sair á rua para o percebermos, para mais num país onde a mesquinhez e inveja andam de braço dado, sempre atentas aos rendimentos alheios, mas será legítima? a meu ver não é, por não ter sido centrada na função pública, onde poderia ser legítima uma palavra presidencial, apesar de não ter competência no sector, agora nas pequenas e médias empresas privadas? tais vencimentos não existem, se falou para as multinacionais ou mesmo para os grandes grupos económicos nacionais, falou demais. As empresas não podem nem devem estar condicionadas por tectos salariais ou outros, impostos por decreto, vendo a sua competitividade e sobrevivência, afectadas por múltiplos factores, um dos quais a massa salarial, a qual de resto, até contribui via segurança social e IRS, para o funcionamento do próprio estado. Esta razão bastaria, para considerar a mensagem do P.R. uma ingerência no tecido empresarial português, mas julgo não ter sido essa a intenção de Cavaco Silva, e sim um apelo vago, genérico á moderação salarial, apelando aos gestores das maiores empresas, que os esforços a existirem, para obterem justificação, devem ser partilhados por todos, e não apenas por alguns, evitando alguns casos difíceis de explicar. Mas nesta matéria, tratou-se duma mensagem inóqua, de vagos principios genéricos. Gostaria de ter visto uma mensagem mais centrada na política económica, e na falta de convergência com a média da U.E., algo que afecta a nossa vida diariamente.

-Mensagem de Ano Novo do Presidente da República

5 comentários:

Blondewithaphd disse...

Again, I didn't watch the President's address to the nation, just as I didn't watch the PM's. But in the light of your post I also agree that the President has nothing to meddle in the private sector. What is utterly shameful and reproachable is the salary gaps in the public sector.
As for the meritocratic concept... Well, we know it doesn't exist in this country.

quintarantino disse...

Lá está... meu caro, você tem razão no que escreve e diz, cuidando-se apenas de saber uma coisa e que aqui mistura: a função pública de que fala qual é? a das carreiras especiais ou dos corpos gerais?
No mais, e tal como disse em comentário que hoje produzi ao post da Silêncio Culpado, e se calhar é por estupidez minha, mas o desenvolvimento económico e as práticas de gestão ganhavam muito se andassem associados à ética, à moral e à rectidão.
Eu não creio, do pouco que o conheço, que seja dos que defende um modelo como ainda é o do Vale do Ave, onde o patrão "saca" (é esse o termo) 10.000€ por mês e o ordenado mínimo às operárias que, ainda por cima, trabalham em condições míseraveis.

Liz / Falando de tudo! disse...

Nunca é tarde pra se dizer feliz Ano Novo, e que 2008 lhe traga novas e boas experiências!
Temos mesmo é que agradecer quando termina um ano, mesmo que não tenha sido exatamente bom, vale a pena lembrar que Deus nos deu a oportunidade de estar vivos!

António de Almeida disse...

-Quint, não sei se existem mesmo patrões no vale do Ave, sacando 10.000 euros mensais, enquanto pagam 400 e miseros euros aos seus trabalhadores, obviamente que não acredito na viabilidade desse tipo de empresas, nem é essas que me refiro quando assumo certas posições mais liberais. Acredito numa economia liberalizada, será uma crença tão legítima quanto qualquer outra, uma práctica errada não me fará demover dessa crença, infelizmente em Portugal existem muitos empresários pouco qualificados eles próprios, tenho esperança que a situação melhore com o passar dos anos, mas não tenho ilusões, não existem remédios milagrosos, nem modelos sociais que tudo resolvam dum dia para o outro. Será necessária uma política sustentada, algo que a Rep. Irlanda fez desde os anos 80, porque os sucessivos governos, independentemente da cor política, tiveram respeito pelo trabalho anterior, algo que como todos sabemos, em Portugal não existe.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Não me parece que Cavaco Silva pretenda pôr o pé onde não deve. A mensagem, em meu entender, é uma mensagem inócua que pretende demarcar-se da actuação do governo mas dando força à governação.